04 setembro, 2010

DE MUDANÇA


https://rodeiosdaalma.wordpress.com/

09 agosto, 2010

A graça na vida real

A graça é tão difícil de definir quanto difícil de acreditar. É por certo um monstruoso escândalo à religião e à moral, porque sustenta, basicamente, que Deus não acolhe as pessoas pela consistência do seu desempenho religioso, ético, social ou profissional, mas unicamente pela sua graça – seu próprio cavalheirismo, graciosidade e inclinação em perdoar. Segundo a visão de mundo do Novo Testamento, é apenas devido a essa postura graciosa de Deus que gente sem qualquer mérito como nós mesmos e o vil ladrão crucificado ao lado de Jesus pode ser acolhida no Reino sem nenhum trâmite adicional.

A boa nova da graça explica que Deus não escolhe escolher pessoas pelo seu desempenho admirável, porque do contrário não teria ninguém para escolher. Admirável é Deus, que ao contrário de nós acolhe e aceita as pessoas sem critério algum. Para o indivíduo a graça é liberadora porque liberta da escravidão do desempenho; ela esclarece que vale tanto controlar o tráfego aéreo de uma grande cidade quanto passar a tarde aquecendo um gatinho entre as mãos.

...

A graça é apavorantemente inclusiva e deve ser manipulada com horror porque anula o mérito de todo sistema religioso; a graça torna inteiramente contraproducente, insensata e obsoleta a noção de religião como esforço ritual de religar o homem a Deus.

...

Notáveis, para Jesus, são os que não estão nem aí para o culto da performance; que vivem deliberadamente à margem dos valores do mundo e não servem às riquezas porque querem servir a Deus; que não andam ansiosos com o dia de amanhã porque crêem surpreendentemente que a vida é mais do que o alimento, o corpo mais do que as vestes e a casa mais do que o Sound System: os tolos, os imprudentes, os despreparados, os marginais, os insensatos, os pacificadores, os que não se destacam em nada, os confusos, os destrambelhados, os altruístas, os medíocres, os fracos.

Todos, talvez. Você, certamente. Eu, em particular.

[o culto da performance - Paulo Brabo]


Sem mais.


27 maio, 2010

eu não preciso mais falar sobre a pessoa ideal.. sobre a pessoa que vai mudar minha vida.. eu não me preocupo com as esperas.. não penso sobre sua hora de chegada.. não me preocupo com quantos dias faltam.. nem como vai ser.. eu não preciso disso mais.

eu sempre depositei nas esperas a falta que havia em mim.. e até criei a fantasia da existência de alguém ideal pra se esperar, pra justificar a parte incompleta do meu coração. e a cada pessoa nova eu depositava a esperança de me aliviar de vez, mas depois de um tempo, longo ou curto, não importa, meu coração continuava insatisfeito, necessitado..

não houveram amores, não houveram amigos, não houveram desconhecidos.. não houve ninguém que pudesse me completar da forma exata.

até que eu pude perceber que não havia ninguém novo a se esperar. e o que me completava estava comigo- sempre esteve comigo - estava dentro de mim e não era eu.

24 maio, 2010

lá de cima

eu imaginei algo muito, muito diferente. não imaginei também aquele sentimento quando pude finalmente vê-la. e me senti tão honrada pois a primeira vez que olhei aquele lugar eu pude vê-la de um lugar alto, que quase podia vê-la por completo.. eu quis abraça-la. foi lá de cima, junto com a primeira visão, que pensei tantas coisas sobre aquele visita. não, eu não podia já amar aquele lugar, pois eu ainda não fazia parte dele. eu ainda o olhava de fora. e quando comecei a descer as escadas, desci simplesmente pra me provar. meu desafio era amá-la andando naquelas ruas e vendo o sofrimento daquela gente.


["mas Deus vê o meu coração, mesmo eu sozinho no meu quarto"
De um filho, de um cego]

23 maio, 2010

só um 'oi'... é ser pessimista demais.

fugindo da missão do blog.. lá vou eu na primeira pessoa..
que não se repita muito, não quero estragar.. que foi pra isso que criei o palavras na poltrona , como já expliquei..

e ainda prefiro os contos...

sabe, uma das minhas metas pra esse ano é voltar a escrever. é quase uma promessa, mas eu não quis formalizar. num quero me frustrar depois. mas creio que vir dizer que sinto falta, que sinto saudade disso já vale.. e eu sinto mesmo.. sinto muito. e daí eu coloco 'de um filho, de um cego' pra tocar, aí dá nisso. pronto, eu considero já um começo. e deixo registrado aqui e a gente considera um trato, ok?

me cobrem se quiserem, se poderem.

10 janeiro, 2010

divisa

bom seria que o segundo que dividem dois anos, anunciassem também um tempo completamente novo, totalmente desconhecido, que nada se repetisse. incrível que por mais sinceros que tentamos ser com nós mesmo, dificilmente conseguimos fugir da idéia que agora sim tudo vai ser diferente. mas, desculpa, não, não vai.


você pode até tentar jogar a poeira pra debaixo do tapete, rasgar as velhas cartas, cortar os laços, deletar aqueles e-mails intrigantes, as fotos que hoje até te envergonham.. você pode tentar apagar todos os resquícios de alguém, sumir com todas as pistas, jogar fora todos os objetos que ainda provocam lembranças, mas isso não funciona por muito tempo.


se existe algo que eu desejo pra esse ano, esse algo é a capacidade de relevar.. e isso tem muito mais a ver com saber continuar apesar de tudo, do que esquecer tudo o que passou. quero poder lembrar de tudo, não pretendendo deixar passar nenhum detalhe que seja do que passou. mas quero sobretudo aprender a seguir sem doer.


e depois saber que estou aqui hoje bem mais forte e poder lembrar que sobrevivi apesar de tudo.


um ano muito melhor pra todos nós. o melhor de Deus.

09 dezembro, 2009

esse querer

eu quero voltar a escrever. quero voltar há tanto tempo. quero voltar a tanta coisa. quero de volta meu lápis. quero meu bloco de notas. quero tudo de volta. quero mais, quero paz, quero logo. quero a palavra, o sossego, a inspiração. quero tudo hoje.

25 setembro, 2009

ali, no cantinho..


[...]

bem quietinha, encolhida, em silêncio..

vagava dentro de seu coração para lugares um pouco distantes dali. experimentou algo novo, tateou, observou, mas pouco soube dizer do que se tratava. mas pensou que tanto fazia. decidiu guardar pra si, foi seu segredo. pensou em dizer qualquer coisa depois, mas achou por bem não desperdiçar o tempo.

mas descobriu.. não importasse o lugar comum ou a cena já repetida. não importava as mesmas palavras não ditas nessa hora, esse silêncio proposital. alguém que passasse na rua naquele momento com os mesmos problemas. nem o sol que imitasse o dia anterior.

fechou os olhos e pediu com todas as forças possíveis.

não me alugo pra sonhar


[...]

e vejo uma porta que se abriu.. minha culpa infinita eu até vi se desmanchar nas minhas maõs.. não quis saborear que gosto tinha.. quis esquecer pra sempre a dor que senti. vi de repente uma luz que pra sempre mudou minha história.. e é essa mesma que você vê nos meus olhos agora.. ela não pára nunca.. e que eternize em meu ser. eu vi novos tons no meu humor matinal, pq consegui perceber que nem tudo está perdido. fui achado e acolhido com amor que nunca vi igual. me jogo nele e me esparramo e seu mel invade minha alma levando todo o azedo das minhas frases temporais. não me lembro nem o mal que me fez e já não me alugo pra sonhar. meus sonhos foram comprados por alto preço. numa cruz.

ninguém acharia que valia a pena.. exceto Ele.

08 setembro, 2009

pra não ficar perdido..

'Os milagres são a história, recontada em letras miúdas, que foram escritas mundo a fora em letras grandes demais para serem vistas.'

C.S. Lewis



Logo volto. Que não seja um 'logo' muito vasto. torço por isso!


http://palavrasnapoltrona.blogspot.com/

29 julho, 2009

um sol que eu não vi

hoje eu não vi o sol. nesse lugar só se vê o mínimo de tudo e não há mais nada que eu não posso reconhecer, nada que me distraia o suficiente, nada que nunca esteve aqui, nada que me revele o sabor de outro lugar. estar na prisão não é apenas ser podado da liberdade, mas de qualquer outra coisa que te faça relembrar o seu som. são poucos metros para se dividir com tanta culpa e a sede por perdão é tão imensa que de longe se pode sentir o seu cheiro forte no ar. nesses olhos caídos se pede alto por um amor qualquer ou qualquer outra coisa que pareça impossível.


hoje é o meu ultimo dia aqui, pois descobri o que esse lugar me arranca. por sempre ter estado aqui, não soube que fui feito pra um outro lugar, pois meu limite humano não me permitiu enxergar além das grades. é fácil se acostumar quando se pensa que aqui é o único lugar, que tudo se resume a isso, que isso parece ser a única opção. e apenas procuramos um bom lugar pra sentar e nos distrair.


cara, descobri que alguém pagou a nossa fiança, por um alto valor. ainda estamos aqui por pura escolha, mas basta uma decisão e podemos sair daqui do jeito que estamos. hoje me apresentaram esse alguém e ele me falou sobre um novo lugar. foi só o que me bastou para fazer a minha escolha e eu vou.

mas não posso ir sem que você saiba sobre esse fiador.



hoje eu verei o sol.


27 julho, 2009

Há outras vozes vindo da poltrona, pode ouvir?

Ré. Fiz outro blog por necessidade criatividade.

Agora lá vai minha versão mais pessoal, menos subjetiva, menos alheia e bem mais rayssa, quase um 'querido diário'.

Há ainda quem se surpreenda com minhas invenções, mas quem me conhece sabe que não sou pré-moldada, estou em descoberta infinita e de repente já não me cabe mas só isso. Tou descobrindo novas coisas pra falar, e, pra sincera, acho que o que tenho pra dizer não se enquandra muito aqui, pois não falo somente AO DA POLTRONA, mas também falo diretamente dela.

http://palavrasnapoltrona.blogspot.com/

Linkem, anotem, repassem, comentem, indiquem, invadam, escrevam nos muros, no piso da lua, em outros planetas...

e não se preocupem, isso aqui não vai parar. não pode parar.

Deus os abençoe de muito.

15 junho, 2009

Novas palavras nas gavetas

É assim que em mim renova o repertório. Frases que mesmo saturadamente relidas, um dia simplesmente traz o mistério de uma nova mensagem, inundando e mudando, trazendo a tona aquela cara boba da primeira vez. E então reformula tudo que você já pensava estar preciso e completo.


Seus olhos não se cansam de repassar pelo mesmo lugar comum, as mesmas coisas já vistas, pois toda vez que repetida trazem um gosto diferente, abrem seus olhos pra um novo horizonte tão longe. Mas não longe, por ser distante, mas por ser cada vez mais amplo, por te permitir descobrir e ver coisas novas e entender, finalmente entender, que tudo é muito mais que aquilo que você imaginou.


Eu incrivelmente amo ser surpreendida pela Palavra de Deus. Que ela me quebre e me refaça toda vez que meus olhos a encontrarem. Que me inunde do novo, pra que eu seja uma nova criatura que contempla o mesmo cenário, mas com novos detalhes mais suntuosos e sublimes todos os dias. Hoje eu vi um céu maior.


[Subvertendo meu blog.. um texto curto e leve, pra quem se diverte em mudar conceitos]

26 maio, 2009

estafeta

não houveram estradas que não me custaram. as histórias que reconto só me provam que não estou mais a vivê-las e tão pouco elas me mostram quem eu sou, mas onde pude chegar. não queria diferente. acordo sossegado pois a sei que a trilha é outra agora, um novo compromisso que me faz sorrir.

há quem muito discorde da minha função honrada, pois são muitos os que não alcançaram a graça, da qual custa a minha jornada diária a buscar. mas ouvi o chamado e já não pude resistir à chance de me tornar quem eu nasci pra ser: um simples mensageiro.

hoje ando perambulando por aí com uma responsabilidade em minhas mãos. uma carta de um pai para um filho, uma história de amor. sobre eles há que se dizer.. uma contradição de vidas que até então os separa.

[..]

comenta-se por aí a história de um filho. um filho que nasceu como uma idéia absurdamente maravilhosa. sua vida fora repletas de surpresas, das quais a primeira e mais surpreendente fora si mesmo, tanto que por muito ou todo o tempo se pegou fascinadamente a pensar sobre sua própria natureza. porém mesmo tão esperto, como uma das graças também concedida, não foi capaz de alcançar o seu verdadeiro valor e seu maior propósito, por isso levou a vida a se distrair com coisas qualquer.

fala-se também da história de um pai. um pai cujos os adjetivos existentes são incapazes de definir, por isso o máximo com que podemos referi-lo é a melhor palavra que existe, mesmo sabendo que isso é o mínimo da noção vaga daquilo que de fato ele é. tão pouco sabemos algo além daquilo que ele quis revelar, mas que é o bastante pro que precisamos entender e o suficiente para descobrirmos que se trata de alguém que muito amou.

o filho levava a vida, da qual apelidou de ‘própria’, sem saber (ou fingindo não saber) que ela se tratava apenas de uma idéia de alguém. escolheu seus próprios brinquedos, escolheu seus amigos, sua namorada, o modelo do seu carro, a sua universidade, o que achou suficiente para poder pensar ser o responsável por tecer toda a sua história. estava enganado.

o pai viu seu filho se afastar de tudo que era seu. quis que esse ‘seu’ fosse também dele, mas ele não o recebeu. deu aquilo que mais prezava para o bem de seu filho.. por amor. o filho não viu. não sentiu seu olhar. o presente passou despercebido. depois de demonstrar de todas as formas o quanto o amava, o seu filho continua a não se dar conta.

[..]

preciso encontrá-lo afim de que ele saiba que o pai o espera todos os dias e assim não apenas garantir o seu retorno, mas lhe explicar que só há um caminho para voltar para casa.

essa carta é pra você.

18 janeiro, 2009

o grande preço




nada até hoje fez apagar a imagem da ultima partida, do trem que diminuía aos poucos na vista que jamais alcançaria. certamente saudade não sentiria de quem levou consigo o que você não mais queria e só deixou a esperança de um dia novo.

ainda não ousaria dizer que apesar disso não foi uma partida doida e que por alguns minutos pensou se assim mesmo deveria ser. não olhou nos olhos e em momento algum pediu que ficasse e até desejou que jamais se encontrassem outra vez. foi assim que naquela manhã cinzenta de algum mês nunca esquecido, que em uma estação qualquer viu partir a sombra envelhecida e cansada de sua ultima vontade.

nunca mais voltaria aquela estação, não porque a partida bateria outra vez na memória, mas porque nunca mais precisaria.


decidiu isso pra sempre.



[é preciso que nos despojemos do nosso velho 'eu' por completo. que permitamos que ele se vá de vez e se distancie cada dia mais de onde estamos hoje, sem apegos ao que era, sem vontades e sonhos envelhecidos e cansados, mas olhando para o que pode ser depois de nos achegarmos ao altar, a nossa maravilhosa 'estação' de entrega, de despedida do velho.
o único lugar que o antigo 'eu' se distância é do centro da vontade de Deus.]




‘..esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim’ – Fp 3:13

07 janeiro, 2009

dádiva.

foi hoje que finalmente consegui tirar aquela antiga caixa de cima do guarda-roupa. por vezes olhei tão apressadamente, mas a tempo suficiente de despertar um velho tipo de deserto que sempre existiu ali, dentro de mim, cada vez que adiava aquele momento. me ocupei demasiadamente em não precisar dela e em inventar todas as desculpas que a vida me permitiu improvisar, para não ter que tirá-la de seu lugar, mesmo sabendo que nunca fui convincente o bastante. e nunca de fato seria. nem com os outros, nem comigo mesmo. tratei de deixar num lugar que eu acreditasse não poder alcançar, escolhi o lugar mais alto como se já soubesse que sempre deveria estar lá – independente de onde colocasse em meu quarto. lembro que a re-decorei ao meu gosto, com todo cuidado que pudesse ter, a fim de não abri-la sem querer e de repente ver tudo se espalhar de vez pelo chão. e espero que compreenda meu zelo exacerbado, sem perceber que se passa apenas de mais uma das desculpas que levo no bolso, pra sempre ter motivos o bastante. com o tempo aprendi a me precaver, pois sempre me deparo com a necessidade de ter que abri-la, assim como muitos tem feito. tenho fugido arduamente de seu conteúdo, sempre buscando qualquer coisa semelhante que possa substituir o que por tempo tenho precisado e pelo mesmo tempo evitado.
nessa caixa se encontra a real condição de quem sou, quem devo ser, quem nunca fui. se encontra o que por anos evitei me tornar, pra não ter depois que ver os olhares alheios tortos em minha direção. poucos, poucos mesmo, sorriem a quem abre a caixa. esses mesmos ‘poucos’ também desviam suas vistas de suas caixas, colocando em algum lugar seco e empoeirado, indiferentes a sua existência. outros a tiram completamente de seus quartos ignorando o dia de terem que enfrentá-la.

hoje, por mais uma vez, a senti a me atrair, e de repente já não fez sentido porque tantas vezes tropecei na simplicidade de seu convite. foi assim que me aproximei do guarda-roupa, dessa vez por motivos bem diferentes de outrora.
olhei pro alto e levantei a mão.

abri o presente e encontrei o presenteador.

‘Veio para o que era seu, e os seus não o receberam’.- João 1:11.

01 dezembro, 2008

das coisas que [ainda] não vi



tenho um certo fascínio pelas novas imagens, pois sei que as coisas mais belas eu ainda não vi, por isso eu ando com olhos sempre cerrados vasculhando todo pedaço de qualquer coisa a minha volta, pra então me perder em alguém na praça, num encontro, numa criança brincando sozinha, numa folha seca dançando no vento, numa cena que ninguém repare.


eu vejo beleza em tanta coisa besta. e dessas besteiras eu construo o meu jardim. pequenas coisas cotidianas, flores 'roubadas' da vida dos outros, pétalas que deixam cair.. as coisas mais bobas e belas que possam existir, secretamente.


é assim que a minha mente dispara, vai na minha frente e às vezes quase consigo alcançá-la, porque ainda não sei tocar tão bem naquilo que ainda não foi.


mas até que deixo que meus olhos me limitem um pouco o sonho, porque gosto de me surpreender com novas pétalas. talvez não houvesse tanta beleza se a mente já tivesse captado a mesma flor em alguma outra imaginação.


eu tenho um sonho em especial, uma flor que meus olhos esperam enquanto me distraio nessas pétalas, e digo, sem me assustar, que nem vou me lembrar do meu jardim e das coisas belas que já colhi, quando os meus olhos acharem o que aguardam.



[Mateus 24:29-30]

07 agosto, 2008

sinais




gota a gota. eu sinto pingar dentro de mim no mesmo compasso. cada uma delas parece anunciar uma mensagem secreta, mesmo que num tom baixo, uma a uma. é preciso parar tudo pra ouvir. é assim que começa.

de repente, não muito mais que isso, outras aparecem pra confirmar o que a primeira tentava explicar. começa um novo ritmo e a mensagem ousa mais à nossa frente. e o volume aumenta quando você se concentra e esquece os outros sons. e você parece finalmente entender que aquela seqüência de tons no telhado te ordena.

abra o guarda-chuva... pegue o cobertor... tire as roupas do varal...

a chuva logo vem.


a ordem é se preparar.


[e eu já sinto o friozinho na barriga]



"bem-aventurados aqueles servos,
os quais, quando o Senhor vier, achar
vigiando! em verdade vos digo que se cingirá,
e os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá." [lc 12:37]

02 agosto, 2008

o senhor dos sapatos

a cada passo eu tento prever o seguinte, como se a estrada fosse sempre tão plana e homogênea, só porque fui eu quem escolheu e comprou esses sapatos. como se coordenar o movimento dos meus pés fosse suficiente para impedir o perigo logo a esquina. mas ao dobrar outro mundo.
e assim mesmo sempre impelida a ir com cautela e olhar sempre os dois lados antes de atravessar, como se apenas isso bastasse.
os machucados que carrego a cada passo superado e pegada deixada por misericórdia aos segundos passados, não me trazem aos ouvidos o aviso que impede o tropeço, a queda. mesmo que seja apenas mais um de tantos que houveram. mesmo que seja só mais no mesmo lugar.
tantos sinais ao redor que nada me comovem. eu movo meus pés com destreza e harmonia que copiei de alguém. seguindo como quem sabe aonde vai, mas ninguém sabe que sigo os caminhos que se atreveram a minha frente, na fuga de não me manter parada e no risco de não ir a lugar nenhum. quero apenas que me vejam passando.
e dentro de mim eu sinto o quanto custam meus calos, na tentativa de dançar, de saltar, de correr. mas não saio dos mesmos passos errados e pesados. errados, pesados e doloridos, que em mim eu acredito que não há caminho que me compense uns sapatos confortáveis. mas eu não paro de dançar. que me vejam passar. que me vejam.
parece que embora ande nunca saio do mesmo lugar.

eu ouço rumores de alguém que decora meus movimentos e que quer me trazer uns sapatos bonitos e leves para que eu não pare. mas dizem também que há um caminho [o caminho] a ser percorrido até lá, mas que há um acompanhante oferecido gratuitamente pra quem decide ir encontra-lo. imagine só... gratuitamente. e ele te leva nos braços.

“ a estrada do justo é como a luz da aurora,
que brilha cada vez mais até ser dia perfeito” [pv 4:18]

29 junho, 2008

novas formas na retina

eu tinha uma boneca. não lembro ao certo quando foi decidido que ela entrasse em minha vida, nem como, mas lembro que foi uma amiga inseparável durante muito, muito tempo. eu lembro cada detalhe que a formava e de como me era querida, uma amiga tão próxima, mas que nunca ousara descobrir seu nome e nem ela também a dizê-lo. ela tinha longos cabelos lisos no início, cabelos que eu amava e nunca consegui ter. mas ela pôde usufruir disso por bom tempo. já que era ela a sortuda nesse caso, eu me contentava em ser feliz por ela, ela merecia o cabelo mais que eu. tinha olhos redondos, azuis, grandes e tão penetrantes, que nenhum fabricante ousaria em qualquer simples bonequinha de pano. e ela não era qualquer uma, nem somente simples, eu sempre soube o seu valor, desde o primeiro dia.
com o tempo eu resolvi crescer, meio que obrigada no princípio, mas depois foi realmente preciso, por motivos e coisas que não conferem nessa história. quem sabe outra hora eu te conte, pois hoje você precisa dormir cedo.
num tempo que me durou apenas alguns centímetros a mais, nela este mesmo tempo foi ainda mais cruel. para ela lhe durou uma roupa mais bufenta e amarrotada, um olho a menos, alguns remendos nas suas costas ao tecido que sedia aos dias, deixando-a aparentemente cada vez mais frágil. nessas costuras nunca vi um só pingo de sangue escorrer, juro. ela era na verdade sempre tão forte. e os seus cabelos ganhavam espaço no ar, agora tão cheios, nem eram mais lisos e pareciam ter encolhido. não eram mais como antes. achei justo, pois nem eu mais o era.
mas em mim, te digo, permaneceu sempre tão linda. não pela sua primeira imagem que era ainda tão viva na lembrança, mas pelo que ela significava pra mim todo dia, há muito tempo. eu nunca forcei achar-lhe tão bela, nunca, eu simplesmente achava, mesmo com o tempo e as coisas que o tempo lhe rendeu. eu a interpretava assim.
linda. como a gente vê alguém e acha. é a nossa forma de interpretá-la também. todo mundo costuma interpretar as pessoas ao seu jeito. às vezes até a gente sabe que aquela pessoa não é e que a maioria não arriscaria tal adjetivo, mas a gente acha simplesmente. tem gente que nós nem achamos, mas que coisas simples nos remetem a novas interpretações. é preciso estar aberto pra isso também.
de tudo o que ela me trouxe, o que guardo ainda mais forte nas minhas recordações é isso: saber interpretar as coisas, os textos, as pessoas e principalmente as bonecas. não importa o que a fila inteira ache, se o meu olhar aponta novas cores. só a gente sabe o efeito que causa na gente o que a vista aponta. quem mais verá com os olhos que vi? como não sei, continuo a descrever como ela era. pra que se deixem ver com os mesmo olhos que vi e saibam interpretar mais bonito.


só sabe mesmo quem vê. quem quer vê.

24 junho, 2008

mateus 7:7



estava à porta. sim, como deveria sempre estar. ainda não ousara bater, mas parou, suspirou fundo e bonito, se deliciou com a certeza de enfim estar no lugar certo.


tantas estradas já tinham lhe apontado o caminho, das quais olhava-as com os olhos apertados, até onde sua vista poderia alcançar, para então prever o fim que lhe caberia. e este foi o caminho onde seus pés descansaram.


agora sim tinha achado a porta. chegou a olhá-la por completo e se sentiu feliz assim tão pequeno. sempre sentiu certo fascínio por essa imagem vista por cima e não passou em momento algum em sua mente que fosse isto intimidante. pelo contrário, era tão acolhedor.


e ali, à porta, viu suas mãos tão calejadas sentirem alívio. por estarem limpas agora poderia tocar, poderia então bater. e batia como se já tivesse alcançado o que até então se escondia ali atrás. seu coração sabia o quanto tinha esperado e esperaria mais se preciso fosse, ao tempo que o caminho percorrido lhe preparava o sabor.



e bateu, bateu, bateu.. nessa porta que se abriria.


'contudo, um poema,

tua obra de arte,

destacasse à parte,

numa cruz vulgar'

[te vejo poeta - joão alexandre]

18 maio, 2008

aos espelhos

[os de dentro ou de fora]

ao que parece seria um bom sistema, ocorria um pensamento ligeiro antes de cada expressão. era o que tinha a palma da mão e se contentaria por muito tempo nesse ensaio prévio, do que ainda não sabia o quê, mas que esperava. e se de fato esperava deveria sim preparar-se, era a forma de materializar a sua fé. se sentia injusta esperar apenas, sentada quem sabe, e invulnerável. mas ela não entendia isso ainda muito bem, assim como você agora ao que eu digo. e fazia essa mesma cara de desconfiança.

e é disso que tenho me aproveitado.

ela corria ao espelho e montava seu script, com o tom que caísse melhor. e do outro lado a imagem refletida era aos seus olhos a que já vivia o que ela ainda esperava.

esticava as mãos e quase podia tocar. quase.

o espelho era em sua mente e lá ele mora até hoje. era dentro dela, mas ela estava do lado de fora. ainda.

mas ele não reflete, como os espelhos comuns, pois comum não o é.

era tão condizente com o que não vivia, como tão difícil definir o que é.

a vida fingia correr naturalmente, disfarçada de coração batendo à intervalos constantes, mas sabe-se aqui que a vida porque assim parecia andar, não seria ela própria também personagem. o coração acelerava.

e a vida, como bem sabe, é aquilo tudo que você pode ver ao redor, é o que você sabe e até onde sua mente consegue alcançar. mas vou te contar... há muito de vida além, posso te garantir aqui. secretamente.

e o lado de cá, a vida de fato, perdia cada vez mais a sua graça, pois no espelho se refletiam novas imagens que via a si própria já a desfrutar. não essa que vivia, mas aquela do outro lado.

e já não se contentava por sonhar, pois a vida do lado de lá a atraía ardentemente, como essas palavras. mas pôde então entender a mensagem, que poderia então alcançar sendo ela própria o reflexo, não o contrário como tinha pensado até então.

ela já não só via um espelho, como agora já buscava ser. pois nunca o é por completo, mas isso já é o bastante, acredite.

então pôde tocar. finalmente.

e já sabia o que esperava. e o que esperava por ela.

e ainda não mudou toda a vida, pois sabe e consegue ver muitas coisas. a sua vida é grande demais. mas quer mudar a vida de alguns falando de um tal espelho, mas falará de uma forma mais simples.. da próxima vez.

onde estão os espelhos?

04 maio, 2008

colheita

você tem o mundo, muitas coisas e algumas mãos. as suas e outras próximas que te completam.você tem muita coisa ao redor, além das já casuais, e às vezes quase nada nas mãos. mas não faça essa cara de descrença agora, se deixe entender mais tarde e agora só escute. eu explico.

pois bem, e quando quer pegá-las, suas mãos - as duas ou algumas - não parecem o suficiente. você só não sabe como crescer e apanha-las, nem como diminuí-las ao tamanho da palma da mão... mas você tenta. e consegue colher algumas, as possíveis, as que tiverem ao alcance, ou as que você quer somente, e tenta ajustá-las nessa página.

e de repente elas crescem, tomam algumas proporções imprevistas... e das coisas que você acha ser insuficiente, você tira de lá exatamente o que precisa pra alcançar as demais.

e é da ausência do que dizer que vejo minhas mãos sem calos, vejo minha mãos caladas, sem coisa alguma. e no fim você vê que só precisa aguardar um pouco, colher o que pode, soma-las a você e crescer com elas... de pouco em pouco... na medida certa.

e isso foi o que eu alcancei hoje.

eu junto minhas mãos às suas e podemos alcançar o distante.

se existe uma fórmula, talvez seja essa.

27 abril, 2008

como páginas de um livro

difícil esperar a hora certa. difícil saber se a hora certa é mesma que o ponteiro marca no nosso relógio.. com algumas horas adiantadas.

e o infinito que se pensa ser a hora seguinte... e o minuto seguinte que nunca chega.

o final que nos cabe, que nunca se sabe e que se espera infindavelmente.

[o dia chegará e todos verão]

e saber depois de tudo qual a hora que a gente espera acontecer... qual o momento que acordamos todo dia pensando que será ali, naquele dia.. qual o dia marcado no calendário, que ansiosamente é folheado e todos os dias feito uma nova recontagem do quanto falta, do quanto ainda doerá... qual o segundo que pensamos que irá mudar a rota... pra sempre[??].

mas depois de um tempo que das esperas - de tantas delas (umas válidas e outras não) -, se vê que as coisas não mudam muito e as metas que traçamos são cada vez mais longínquas, pra que se tenha em quê se agarrar com tempo de validade cada vez maior.

até chegar ao ponto, onde não se tenha mais nada a esperar depois daquilo.

é como um livro, onde você espera exasperado pra terminar cada página e que por mais que você não agüente mais até chegar a próxima, o que importa de verdade é ultima e que depois dela só restam espaços brancos, conseqüentes daquele final. é quando o tempo e o espaço se interceptam de novo. um caminho até o final. você entende?

eu nunca gosto de pular as páginas e ver o que será depois. eu espero, com o coração apertado, mas espero. é a esperança com validade maior... a maior esperança é do que irá acontecer na ultima página.

eu já não espero o tempo da virada brusca... eu não espero o que um dia vai passar, pois não valerá tanta tempo aguardando... espero o ponto final do que se pode esperar e o que finalmente abrirá o caminho pra onde não se precisará mais de esperas.

é na linha final que meus olhos descansam. nas coisas eternas, não nas passageiras. na ultima página do livro.

e às vezes você está tão distraído que nem percebe e já é o ponto final. mas ainda vem o espaço em branco e por isso vale a pena esperar. garanto.




eu olho para o céu já são tantos os sinais
não sei pros meus dias ou pros meus filhos
pra todos os efeitos eu vivo preparado e em paz
eu to esperando a tua volta’

22 abril, 2008

alguém diferente

Das diferenças, soube sempre, era o que a atraía. Quando resolveu buscar um ser para ser, foi da estranha arte de inventar, procurar o que até então não se havia pensado, nem sido, que buscou. Da forma de se vestir, de falar, sobre o que falar, escrever... não quis nada usado. Quis algo limpo, novo, seu.

Do amo fez também suas idéias.

Das dores, cores, livros, encantos..

Mas de nada havia isso de novo, pensou. Mesmo que ousasse um novo movimento, nada que fizesse fugiria dessa imagem enquadrada, preconcebida. Uma mesma fôrma. Talvez tudo já tivesse sido pensado antes, não se havia nada mais a se criar, até porque já se faz tanto tempo desde tudo.

Logo ela, que fugia de qualquer imagem tachada, achou que lá de cima talvez todos não fizesse lá muita diferença. Por mais que todos se podassem[ e se podam], reparassem os excessos [e reparam], seriam todos de uma mesma fôrma. De fato talvez não tivesse nada de muito novo pra apresentar.

Mas um dia ela encontrou alguém diferente. E foi ele o esperto que pensou antes de todo mundo. E realmente, o melhor já tinha sido inventado.

14 março, 2008

das dores



não há formula, não tem como te dizer é isso ou aquilo, faça assim ou de outro jeito, a não ser que você tenha realmente nascido pra coisa, o que, de fato, iria me incomodar um bocado. mas não, não ache que isso é um problema [não mais], pois tenho levado, acredite, e é o que definitivamente também tem me impulsionado.

tenho aprendido.

é certo que existe todo um esquema de processamento e autocrítica que diria até ser constante, confesso, mas só dói no momento anterior da aceitação, nesse caso quando isso ainda se faz problema e depois, bom, depois começa a lavagem, é faxina diária na alma, é limpeza da poeira na estante de livros e ás vezes até resulta em algumas mudanças radicais no roteiro, o que é bem aceitável nesses últimos dias. mas o momento de dor é que é realmente decisivo, pois é ali, ali exatamente que a gente tem a noção da coisa... entendeu o que falei sobre ter jeito pra coisa? eu não tenho muito jeito pra ela, porque ter em outros termos seria também aceitar, e eu não aceito. e você vai até dizer que é uma válvula de escape ou um jeito de ser otimista, uma forma de não sair perdendo ou só uma pessoa sem vontade de se dar por vencido e guardar o aprendizado pra mais tarde.

é tarde.




13 março, 2008

notícia de uma lembrança

' durante algum tempo fiz coisas antigas

como chorar e sentir saudade da maneira

mais humana possível: fiz coisas antigas e

humanas como se elas me solucionassem'

[caio f. abreu]


lembro que foi quando a história começou realmente a fazer sentido pra mim, lembro porque foi no mesmo momento em que parti... ou foi tu que partiu
? pois só lembro da distância que crescia apressada entre nós dois, com urgência em acabar uma possível história feliz [não que nossas vidas não sejam, era só uma possível] ou um simples gesto involuntário ou palavra vaga que precisasse de algum tempo pra ser decifrada, nada que prendesse demais, nada que implicasse numa mudança na rotina, nada que impedisse alguém de partir. mas de tudo o que ficou o que me mais me dói é que eu não sabia que uma ação, simples que fosse, iria fazer tal diferença um dia, inda mais se esse dia ocupasse todos os agora’s da vida. se eu soubesse da reação de cada ato, não faria deles uma lembrança tão dolorida. e eu lembro como era tão fácil jurar a fidelidade eterna e que envolvido na situação um de nós jurou nunca partir, nunca se mudar, nunca ficar longe, nunca nem pensar distante e que o outro jurou cumplicidade e também fez muitas outras juras em nome da amizade, mas não mencionou nada sobre distância, talvez porque soubesse. eu lembro de tudo, de cada detalhe, só nunca consigo lembrar quem foi o quê dessa história, talvez porque tenhamos realmente levado a sério essa coisa de cumplicidade e a gente acabou se confundindo pra sempre. e penso nisso agora porque descobri que quem jurou não partir é justamente esse que se foi e a esse não se deve mais o direito de promessa ou ao outro o direito de não partir. só preciso saber se te lembras e aprender algo realmente verdadeiro sobre não se prender.


[estou deixando as palavras fluírem, escorrerem como a maquiagem que tiro pra dormir, não ter ainda achado uma linha certa eu tenho achado super incomodo, mas espero que você vá achando graça]

29 fevereiro, 2008

máscara



já que é assim, deixa então que eu mesma escolho a minha máscara. me parece tão cruel esse sistema, ninguém ser quem parece ser, mas faço diferente. já que não sou eu tão fútil assim, mesmo querendo não ser tão comum, mas sendo condicionada a esse jogo, farei jus a minha escolha. quero aquela máscara ali, aquela tão parecida comigo que até me confunde, eu arranjo a minha forma de fugir desse quadro taxado. pego e coloco e até dou uma olhadinha no espelho, pra confirmar meu potencial de escolha. mas ao observar melhor começo a ver que ela não se parece comigo e sim com quem, na verdade, eu gostaria de ser, é uma projeção das minhas buscas. e acho até que esse negócio de máscaras não é tão ruim é assim, vejo até que me cai tão bem. então arranco de vez... o rosto que se encontra em baixo dela, pra não parecer assim tão doble.




25 fevereiro, 2008

dia em cores e som



num dia qualquer poderia acontecer. num dia desses, quem sabe. numa esquina com muito verde e vermelho e poderia tocar um som bem limpo e fácil, sem letras audíveis, que acompanhassem o desenrolar da história. calmaria, magia, surpresa, emoção. sintonia de dias, sons, cores, coisas em movimentos e outras em repouso, dentro e fora, na ordem que cair melhor. poderia ser numa sexta-feira ou sábado talvez, pra assim apagar a falta de jeito que foi aquela semana, salvar o que os dias tinham sido até ali. mas sem pressa, sem esperar que fosse o dia e lugar, pra que as expectativas não estragassem, pra que o olhar soasse natural, sem ensaios, nem idealizações, como se fosse um momento comum e ao mesmo tempo não, como se realmente tivesse que acontecer, não importasse as esperas. o coração bateria no compasso daquela música, que ainda tocava e talvez até tivesse vontade de dançar e por pouco que fosse não resistiria. não se preocupar de repente em dar nome ou tamanho a nada, medir, calcular, não se importar com o contraste das cores, nem com formas, olhares, nada além de um metro de si mesmo pra todos os lados. e dentro viver cada segundo sem se dar conta da falta de espaço, falta de tempo, falta de ar, que até suspeitou ser o problema. todos deveriam ter o dia do acontecer do sonho. sonho acontecer.

antes de sair de casa pensou muito que roupa vestiria (verde? vermelho?). se vestiu e saiu de casa achando aquele dia tão comum, pensou até se seria esse o dia. e saiu... assim de azul.




24 fevereiro, 2008

tempo..

que esse dia iria passar era certo, as horas já se mostravam em despedida, era o mínimo a esperar. e amanhã seria um dia tão anterior, tão ultrapassado e vencido, porque de certa forma a vida corria agora ao contrário, na direção errada ou talvez, por meu engano, fosse realmente essa a certa, pois o amanhã não faria sentido algum se tudo o conduzia somente as lembranças, ia sim viver profundamente a esperá-las, depois disso não se sabia o que viria... ou o que foi.

ele vivia ao contrário.

não sabia se o futuro, ou aquilo que chamava urgentemente de passado, traria alegrias semelhantes, só sábia que certa vez no passado, ou aquilo que chamava tão esperançoso de futuro, tinha sido assim. sabia sim, ou sabia vagamente, ou só suspeitava.. ter um dia que admitir não ter acontecido era o que mais temia. era por isso que achava o tempo tão injusto e seco, tão precipitado e cruel, pois ele só precisava passar pra poder mascarar tudo. só o momento exato sabe o gosto que tem, depois você só acha sabores parecidos e pensa que é igual.

foi por isso que vendeu todos os relógios da casa num brechó e pensou um dia encontrá-los sem nunca ter sido usados numa loja de luxo. agora tinha o tempo em suas mãos.