
https://rodeiosdaalma.wordpress.com/
A graça é tão difícil de definir quanto difícil de acreditar. É por certo um monstruoso escândalo à religião e à moral, porque sustenta, basicamente, que Deus não acolhe as pessoas pela consistência do seu desempenho religioso, ético, social ou profissional, mas unicamente pela sua graça – seu próprio cavalheirismo, graciosidade e inclinação em perdoar. Segundo a visão de mundo do Novo Testamento, é apenas devido a essa postura graciosa de Deus que gente sem qualquer mérito como nós mesmos e o vil ladrão crucificado ao lado de Jesus pode ser acolhida no Reino sem nenhum trâmite adicional.
A boa nova da graça explica que Deus não escolhe escolher pessoas pelo seu desempenho admirável, porque do contrário não teria ninguém para escolher. Admirável é Deus, que ao contrário de nós acolhe e aceita as pessoas sem critério algum. Para o indivíduo a graça é liberadora porque liberta da escravidão do desempenho; ela esclarece que vale tanto controlar o tráfego aéreo de uma grande cidade quanto passar a tarde aquecendo um gatinho entre as mãos.
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A graça é apavorantemente inclusiva e deve ser manipulada com horror porque anula o mérito de todo sistema religioso; a graça torna inteiramente contraproducente, insensata e obsoleta a noção de religião como esforço ritual de religar o homem a Deus.
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Notáveis, para Jesus, são os que não estão nem aí para o culto da performance; que vivem deliberadamente à margem dos valores do mundo e não servem às riquezas porque querem servir a Deus; que não andam ansiosos com o dia de amanhã porque crêem surpreendentemente que a vida é mais do que o alimento, o corpo mais do que as vestes e a casa mais do que o Sound System: os tolos, os imprudentes, os despreparados, os marginais, os insensatos, os pacificadores, os que não se destacam em nada, os confusos, os destrambelhados, os altruístas, os medíocres, os fracos.
Todos, talvez. Você, certamente. Eu, em particular.
bom seria que o segundo que dividem dois anos, anunciassem também um tempo completamente novo, totalmente desconhecido, que nada se repetisse. incrível que por mais sinceros que tentamos ser com nós mesmo, dificilmente conseguimos fugir da idéia que agora sim tudo vai ser diferente. mas, desculpa, não, não vai.
você pode até tentar jogar a poeira pra debaixo do tapete, rasgar as velhas cartas, cortar os laços, deletar aqueles e-mails intrigantes, as fotos que hoje até te envergonham.. você pode tentar apagar todos os resquícios de alguém, sumir com todas as pistas, jogar fora todos os objetos que ainda provocam lembranças, mas isso não funciona por muito tempo.
se existe algo que eu desejo pra esse ano, esse algo é a capacidade de relevar.. e isso tem muito mais a ver com saber continuar apesar de tudo, do que esquecer tudo o que passou. quero poder lembrar de tudo, não pretendendo deixar passar nenhum detalhe que seja do que passou. mas quero sobretudo aprender a seguir sem doer.
e depois saber que estou aqui hoje bem mais forte e poder lembrar que sobrevivi apesar de tudo.
um ano muito melhor pra todos nós. o melhor de Deus.
hoje eu não vi o sol. nesse lugar só se vê o mínimo de tudo e não há mais nada que eu não posso reconhecer, nada que me distraia o suficiente, nada que nunca esteve aqui, nada que me revele o sabor de outro lugar. estar na prisão não é apenas ser podado da liberdade, mas de qualquer outra coisa que te faça relembrar o seu som. são poucos metros para se dividir com tanta culpa e a sede por perdão é tão imensa que de longe se pode sentir o seu cheiro forte no ar. nesses olhos caídos se pede alto por um amor qualquer ou qualquer outra coisa que pareça impossível.
hoje é o meu ultimo dia aqui, pois descobri o que esse lugar me arranca. por sempre ter estado aqui, não soube que fui feito pra um outro lugar, pois meu limite humano não me permitiu enxergar além das grades. é fácil se acostumar quando se pensa que aqui é o único lugar, que tudo se resume a isso, que isso parece ser a única opção. e apenas procuramos um bom lugar pra sentar e nos distrair.
cara, descobri que alguém pagou a nossa fiança, por um alto valor. ainda estamos aqui por pura escolha, mas basta uma decisão e podemos sair daqui do jeito que estamos. hoje me apresentaram esse alguém e ele me falou sobre um novo lugar. foi só o que me bastou para fazer a minha escolha e eu vou.
mas não posso ir sem que você saiba sobre esse fiador.
hoje eu verei o sol.
É assim que em mim renova o repertório. Frases que mesmo saturadamente relidas, um dia simplesmente traz o mistério de uma nova mensagem, inundando e mudando, trazendo a tona aquela cara boba da primeira vez. E então reformula tudo que você já pensava estar preciso e completo.
Seus olhos não se cansam de repassar pelo mesmo lugar comum, as mesmas coisas já vistas, pois toda vez que repetida trazem um gosto diferente, abrem seus olhos pra um novo horizonte tão longe. Mas não longe, por ser distante, mas por ser cada vez mais amplo, por te permitir descobrir e ver coisas novas e entender, finalmente entender, que tudo é muito mais que aquilo que você imaginou.
Eu incrivelmente amo ser surpreendida pela Palavra de Deus. Que ela me quebre e me refaça toda vez que meus olhos a encontrarem. Que me inunde do novo, pra que eu seja uma nova criatura que contempla o mesmo cenário, mas com novos detalhes mais suntuosos e sublimes todos os dias. Hoje eu vi um céu maior.
[Subvertendo meu blog.. um texto curto e leve, pra quem se diverte em mudar conceitos]
não houveram estradas que não me custaram. as histórias que reconto só me provam que não estou mais a vivê-las e tão pouco elas me mostram quem eu sou, mas onde pude chegar. não queria diferente. acordo sossegado pois a sei que a trilha é outra agora, um novo compromisso que me faz sorrir.
há quem muito discorde da minha função honrada, pois são muitos os que não alcançaram a graça, da qual custa a minha jornada diária a buscar. mas ouvi o chamado e já não pude resistir à chance de me tornar quem eu nasci pra ser: um simples mensageiro.
hoje ando perambulando por aí com uma responsabilidade em minhas mãos. uma carta de um pai para um filho, uma história de amor. sobre eles há que se dizer.. uma contradição de vidas que até então os separa.
[..]
comenta-se por aí a história de um filho. um filho que nasceu como uma idéia absurdamente maravilhosa. sua vida fora repletas de surpresas, das quais a primeira e mais surpreendente fora si mesmo, tanto que por muito ou todo o tempo se pegou fascinadamente a pensar sobre sua própria natureza. porém mesmo tão esperto, como uma das graças também concedida, não foi capaz de alcançar o seu verdadeiro valor e seu maior propósito, por isso levou a vida a se distrair com coisas qualquer.
fala-se também da história de um pai. um pai cujos os adjetivos existentes são incapazes de definir, por isso o máximo com que podemos referi-lo é a melhor palavra que existe, mesmo sabendo que isso é o mínimo da noção vaga daquilo que de fato ele é. tão pouco sabemos algo além daquilo que ele quis revelar, mas que é o bastante pro que precisamos entender e o suficiente para descobrirmos que se trata de alguém que muito amou.
o filho levava a vida, da qual apelidou de ‘própria’, sem saber (ou fingindo não saber) que ela se tratava apenas de uma idéia de alguém. escolheu seus próprios brinquedos, escolheu seus amigos, sua namorada, o modelo do seu carro, a sua universidade, o que achou suficiente para poder pensar ser o responsável por tecer toda a sua história. estava enganado.
o pai viu seu filho se afastar de tudo que era seu. quis que esse ‘seu’ fosse também dele, mas ele não o recebeu. deu aquilo que mais prezava para o bem de seu filho.. por amor. o filho não viu. não sentiu seu olhar. o presente passou despercebido. depois de demonstrar de todas as formas o quanto o amava, o seu filho continua a não se dar conta.
[..]
preciso encontrá-lo afim de que ele saiba que o pai o espera todos os dias e assim não apenas garantir o seu retorno, mas lhe explicar que só há um caminho para voltar para casa.
essa carta é pra você.
nada até hoje fez apagar a imagem da ultima partida, do trem que diminuía aos poucos na vista que jamais alcançaria. certamente saudade não sentiria de quem levou consigo o que você não mais queria e só deixou a esperança de um dia novo.
ainda não ousaria dizer que apesar disso não foi uma partida doida e que por alguns minutos pensou se assim mesmo deveria ser. não olhou nos olhos e em momento algum pediu que ficasse e até desejou que jamais se encontrassem outra vez. foi assim que naquela manhã cinzenta de algum mês nunca esquecido, que em uma estação qualquer viu partir a sombra envelhecida e cansada de sua ultima vontade.
nunca mais voltaria aquela estação, não porque a partida bateria outra vez na memória, mas porque nunca mais precisaria.
decidiu isso pra sempre.
[é preciso que nos despojemos do nosso velho 'eu' por completo. que permitamos que ele se vá de vez e se distancie cada dia mais de onde estamos hoje, sem apegos ao que era, sem vontades e sonhos envelhecidos e cansados, mas olhando para o que pode ser depois de nos achegarmos ao altar, a nossa maravilhosa 'estação' de entrega, de despedida do velho.
o único lugar que o antigo 'eu' se distância é do centro da vontade de Deus.]
‘..esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim’ – Fp 3:13
tenho um certo fascínio pelas novas imagens, pois sei que as coisas mais belas eu ainda não vi, por isso eu ando com olhos sempre cerrados vasculhando todo pedaço de qualquer coisa a minha volta, pra então me perder em alguém na praça, num encontro, numa criança brincando sozinha, numa folha seca dançando no vento, numa cena que ninguém repare.
eu vejo beleza em tanta coisa besta. e dessas besteiras eu construo o meu jardim. pequenas coisas cotidianas, flores 'roubadas' da vida dos outros, pétalas que deixam cair.. as coisas mais bobas e belas que possam existir, secretamente.
é assim que a minha mente dispara, vai na minha frente e às vezes quase consigo alcançá-la, porque ainda não sei tocar tão bem naquilo que ainda não foi.
mas até que deixo que meus olhos me limitem um pouco o sonho, porque gosto de me surpreender com novas pétalas. talvez não houvesse tanta beleza se a mente já tivesse captado a mesma flor em alguma outra imaginação.
eu tenho um sonho em especial, uma flor que meus olhos esperam enquanto me distraio nessas pétalas, e digo, sem me assustar, que nem vou me lembrar do meu jardim e das coisas belas que já colhi, quando os meus olhos acharem o que aguardam.
[Mateus 24:29-30]
gota a gota. eu sinto pingar dentro de mim no mesmo compasso. cada uma delas parece anunciar uma mensagem secreta, mesmo que num tom baixo, uma a uma. é preciso parar tudo pra ouvir. é assim que começa.
de repente, não muito mais que isso, outras aparecem pra confirmar o que a primeira tentava explicar. começa um novo ritmo e a mensagem ousa mais à nossa frente. e o volume aumenta quando você se concentra e esquece os outros sons. e você parece finalmente entender que aquela seqüência de tons no telhado te ordena.
abra o guarda-chuva... pegue o cobertor... tire as roupas do varal...
a chuva logo vem.
a ordem é se preparar.
[e eu já sinto o friozinho na barriga]
estava à porta. sim, como deveria sempre estar. ainda não ousara bater, mas parou, suspirou fundo e bonito, se deliciou com a certeza de enfim estar no lugar certo.
tantas estradas já tinham lhe apontado o caminho, das quais olhava-as com os olhos apertados, até onde sua vista poderia alcançar, para então prever o fim que lhe caberia. e este foi o caminho onde seus pés descansaram.
agora sim tinha achado a porta. chegou a olhá-la por completo e se sentiu feliz assim tão pequeno. sempre sentiu certo fascínio por essa imagem vista por cima e não passou em momento algum em sua mente que fosse isto intimidante. pelo contrário, era tão acolhedor.
e ali, à porta, viu suas mãos tão calejadas sentirem alívio. por estarem limpas agora poderia tocar, poderia então bater. e batia como se já tivesse alcançado o que até então se escondia ali atrás. seu coração sabia o quanto tinha esperado e esperaria mais se preciso fosse, ao tempo que o caminho percorrido lhe preparava o sabor.
e bateu, bateu, bateu.. nessa porta que se abriria.
'contudo, um poema,
tua obra de arte,
destacasse à parte,
numa cruz vulgar'
[os de dentro ou de fora]
ao que parece seria um bom sistema, ocorria um pensamento ligeiro antes de cada expressão. era o que tinha a palma da mão e se contentaria por muito tempo nesse ensaio prévio, do que ainda não sabia o quê, mas que esperava. e se de fato esperava deveria sim preparar-se, era a forma de materializar a sua fé. se sentia injusta esperar apenas, sentada quem sabe, e invulnerável. mas ela não entendia isso ainda muito bem, assim como você agora ao que eu digo. e fazia essa mesma cara de desconfiança.
e é disso que tenho me aproveitado.
ela corria ao espelho e montava seu script, com o tom que caísse melhor. e do outro lado a imagem refletida era aos seus olhos a que já vivia o que ela ainda esperava.
esticava as mãos e quase podia tocar. quase.
o espelho era em sua mente e lá ele mora até hoje. era dentro dela, mas ela estava do lado de fora. ainda.
mas ele não reflete, como os espelhos comuns, pois comum não o é.
era tão condizente com o que não vivia, como tão difícil definir o que é.
a vida fingia correr naturalmente, disfarçada de coração batendo à intervalos constantes, mas sabe-se aqui que a vida porque assim parecia andar, não seria ela própria também personagem. o coração acelerava.
e a vida, como bem sabe, é aquilo tudo que você pode ver ao redor, é o que você sabe e até onde sua mente consegue alcançar. mas vou te contar... há muito de vida além, posso te garantir aqui. secretamente.
e o lado de cá, a vida de fato, perdia cada vez mais a sua graça, pois no espelho se refletiam novas imagens que via a si própria já a desfrutar. não essa que vivia, mas aquela do outro lado.
e já não se contentava por sonhar, pois a vida do lado de lá a atraía ardentemente, como essas palavras. mas pôde então entender a mensagem, que poderia então alcançar sendo ela própria o reflexo, não o contrário como tinha pensado até então.
ela já não só via um espelho, como agora já buscava ser. pois nunca o é por completo, mas isso já é o bastante, acredite.
então pôde tocar. finalmente.
e já sabia o que esperava. e o que esperava por ela.
e ainda não mudou toda a vida, pois sabe e consegue ver muitas coisas. a sua vida é grande demais. mas quer mudar a vida de alguns falando de um tal espelho, mas falará de uma forma mais simples.. da próxima vez.
onde estão os espelhos?
você tem o mundo, muitas coisas e algumas mãos. as suas e outras próximas que te completam.você tem muita coisa ao redor, além das já casuais, e às vezes quase nada nas mãos. mas não faça essa cara de descrença agora, se deixe entender mais tarde e agora só escute. eu explico.
pois bem, e quando quer pegá-las, suas mãos - as duas ou algumas - não parecem o suficiente. você só não sabe como crescer e apanha-las, nem como diminuí-las ao tamanho da palma da mão... mas você tenta. e consegue colher algumas, as possíveis, as que tiverem ao alcance, ou as que você quer somente, e tenta ajustá-las nessa página.
e de repente elas crescem, tomam algumas proporções imprevistas... e das coisas que você acha ser insuficiente, você tira de lá exatamente o que precisa pra alcançar as demais.
e é da ausência do que dizer que vejo minhas mãos sem calos, vejo minha mãos caladas, sem coisa alguma. e no fim você vê que só precisa aguardar um pouco, colher o que pode, soma-las a você e crescer com elas... de pouco em pouco... na medida certa.
e isso foi o que eu alcancei hoje.
eu junto minhas mãos às suas e podemos alcançar o distante.
se existe uma fórmula, talvez seja essa.
difícil esperar a hora certa. difícil saber se a hora certa é mesma que o ponteiro marca no nosso relógio.. com algumas horas adiantadas.
e o infinito que se pensa ser a hora seguinte... e o minuto seguinte que nunca chega.
o final que nos cabe, que nunca se sabe e que se espera infindavelmente.
[o dia chegará e todos verão]
e saber depois de tudo qual a hora que a gente espera acontecer... qual o momento que acordamos todo dia pensando que será ali, naquele dia.. qual o dia marcado no calendário, que ansiosamente é folheado e todos os dias feito uma nova recontagem do quanto falta, do quanto ainda doerá... qual o segundo que pensamos que irá mudar a rota... pra sempre[??].
mas depois de um tempo que das esperas - de tantas delas (umas válidas e outras não) -, se vê que as coisas não mudam muito e as metas que traçamos são cada vez mais longínquas, pra que se tenha em quê se agarrar com tempo de validade cada vez maior.
até chegar ao ponto, onde não se tenha mais nada a esperar depois daquilo.
é como um livro, onde você espera exasperado pra terminar cada página e que por mais que você não agüente mais até chegar a próxima, o que importa de verdade é ultima e que depois dela só restam espaços brancos, conseqüentes daquele final. é quando o tempo e o espaço se interceptam de novo. um caminho até o final. você entende?
eu nunca gosto de pular as páginas e ver o que será depois. eu espero, com o coração apertado, mas espero. é a esperança com validade maior... a maior esperança é do que irá acontecer na ultima página.
eu já não espero o tempo da virada brusca... eu não espero o que um dia vai passar, pois não valerá tanta tempo aguardando... espero o ponto final do que se pode esperar e o que finalmente abrirá o caminho pra onde não se precisará mais de esperas.
é na linha final que meus olhos descansam. nas coisas eternas, não nas passageiras. na ultima página do livro.
e às vezes você está tão distraído que nem percebe e já é o ponto final. mas ainda vem o espaço em branco e por isso vale a pena esperar. garanto.
‘eu olho para o céu já são tantos os sinais
não sei pros meus dias ou pros meus filhos
pra todos os efeitos eu vivo preparado e em paz
eu to esperando a tua volta’
Das diferenças, soube sempre, era o que a atraía. Quando resolveu buscar um ser para ser, foi da estranha arte de inventar, procurar o que até então não se havia pensado, nem sido, que buscou. Da forma de se vestir, de falar, sobre o que falar, escrever... não quis nada usado. Quis algo limpo, novo, seu.
Do amo fez também suas idéias.
Das dores, cores, livros, encantos..
Mas de nada havia isso de novo, pensou. Mesmo que ousasse um novo movimento, nada que fizesse fugiria dessa imagem enquadrada, preconcebida. Uma mesma fôrma. Talvez tudo já tivesse sido pensado antes, não se havia nada mais a se criar, até porque já se faz tanto tempo desde tudo.
Logo ela, que fugia de qualquer imagem tachada, achou que lá de cima talvez todos não fizesse lá muita diferença. Por mais que todos se podassem[ e se podam], reparassem os excessos [e reparam], seriam todos de uma mesma fôrma. De fato talvez não tivesse nada de muito novo pra apresentar.
Mas um dia ela encontrou alguém diferente. E foi ele o esperto que pensou antes de todo mundo. E realmente, o melhor já tinha sido inventado.
não há formula, não tem como te dizer é isso ou aquilo, faça assim ou de outro jeito, a não ser que você tenha realmente nascido pra coisa, o que, de fato, iria me incomodar um bocado. mas não, não ache que isso é um problema [não mais], pois tenho levado, acredite, e é o que definitivamente também tem me impulsionado.
tenho aprendido.
é certo que existe todo um esquema de processamento e autocrítica que diria até ser constante, confesso, mas só dói no momento anterior da aceitação, nesse caso quando isso ainda se faz problema e depois, bom, depois começa a lavagem, é faxina diária na alma, é limpeza da poeira na estante de livros e ás vezes até resulta em algumas mudanças radicais no roteiro, o que é bem aceitável nesses últimos dias. mas o momento de dor é que é realmente decisivo, pois é ali, ali exatamente que a gente tem a noção da coisa... entendeu o que falei sobre ter jeito pra coisa? eu não tenho muito jeito pra ela, porque ter em outros termos seria também aceitar, e eu não aceito. e você vai até dizer que é uma válvula de escape ou um jeito de ser otimista, uma forma de não sair perdendo ou só uma pessoa sem vontade de se dar por vencido e guardar o aprendizado pra mais tarde.
é tarde.
' durante algum tempo fiz coisas antigas
como chorar e sentir saudade da maneira
mais humana possível: fiz coisas antigas e
humanas como se elas me solucionassem'
[caio f. abreu]
lembro que foi quando a história começou realmente a fazer sentido pra mim, lembro porque foi no mesmo momento em que parti... ou foi tu que partiu? pois só lembro da distância que crescia apressada entre nós dois, com urgência em acabar uma possível história feliz [não que nossas vidas não sejam, era só uma possível] ou um simples gesto involuntário ou palavra vaga que precisasse de algum tempo pra ser decifrada, nada que prendesse demais, nada que implicasse numa mudança na rotina, nada que impedisse alguém de partir. mas de tudo o que ficou o que me mais me dói é que eu não sabia que uma ação, simples que fosse, iria fazer tal diferença um dia, inda mais se esse dia ocupasse todos os agora’s da vida. se eu soubesse da reação de cada ato, não faria deles uma lembrança tão dolorida. e eu lembro como era tão fácil jurar a fidelidade eterna e que envolvido na situação um de nós jurou nunca partir, nunca se mudar, nunca ficar longe, nunca nem pensar distante e que o outro jurou cumplicidade e também fez muitas outras juras em nome da amizade, mas não mencionou nada sobre distância, talvez porque soubesse. eu lembro de tudo, de cada detalhe, só nunca consigo lembrar quem foi o quê dessa história, talvez porque tenhamos realmente levado a sério essa coisa de cumplicidade e a gente acabou se confundindo pra sempre. e penso nisso agora porque descobri que quem jurou não partir é justamente esse que se foi e a esse não se deve mais o direito de promessa ou ao outro o direito de não partir. só preciso saber se te lembras e aprender algo realmente verdadeiro sobre não se prender.
[estou deixando as palavras fluírem, escorrerem como a maquiagem que tiro pra dormir, não ter ainda achado uma linha certa eu tenho achado super incomodo, mas espero que você vá achando graça]
já que é assim, deixa então que eu mesma escolho a minha máscara. me parece tão cruel esse sistema, ninguém ser quem parece ser, mas faço diferente. já que não sou eu tão fútil assim, mesmo querendo não ser tão comum, mas sendo condicionada a esse jogo, farei jus a minha escolha. quero aquela máscara ali, aquela tão parecida comigo que até me confunde, eu arranjo a minha forma de fugir desse quadro taxado. pego e coloco e até dou uma olhadinha no espelho, pra confirmar meu potencial de escolha. mas ao observar melhor começo a ver que ela não se parece comigo e sim com quem, na verdade, eu gostaria de ser, é uma projeção das minhas buscas. e acho até que esse negócio de máscaras não é tão ruim é assim, vejo até que me cai tão bem. então arranco de vez... o rosto que se encontra em baixo dela, pra não parecer assim tão doble.
num dia qualquer poderia acontecer. num dia desses, quem sabe. numa esquina com muito verde e vermelho e poderia tocar um som bem limpo e fácil, sem letras audíveis, que acompanhassem o desenrolar da história. calmaria, magia, surpresa, emoção. sintonia de dias, sons, cores, coisas em movimentos e outras em repouso, dentro e fora, na ordem que cair melhor. poderia ser numa sexta-feira ou sábado talvez, pra assim apagar a falta de jeito que foi aquela semana, salvar o que os dias tinham sido até ali. mas sem pressa, sem esperar que fosse o dia e lugar, pra que as expectativas não estragassem, pra que o olhar soasse natural, sem ensaios, nem idealizações, como se fosse um momento comum e ao mesmo tempo não, como se realmente tivesse que acontecer, não importasse as esperas. o coração bateria no compasso daquela música, que ainda tocava e talvez até tivesse vontade de dançar e por pouco que fosse não resistiria. não se preocupar de repente em dar nome ou tamanho a nada, medir, calcular, não se importar com o contraste das cores, nem com formas, olhares, nada além de um metro de si mesmo pra todos os lados. e dentro viver cada segundo sem se dar conta da falta de espaço, falta de tempo, falta de ar, que até suspeitou ser o problema. todos deveriam ter o dia do acontecer do sonho. sonho acontecer.
antes de sair de casa pensou muito que roupa vestiria (verde? vermelho?). se vestiu e saiu de casa achando aquele dia tão comum, pensou até se seria esse o dia. e saiu... assim de azul.
que esse dia iria passar era certo, as horas já se mostravam em despedida, era o mínimo a esperar. e amanhã seria um dia tão anterior, tão ultrapassado e vencido, porque de certa forma a vida corria agora ao contrário, na direção errada ou talvez, por meu engano, fosse realmente essa a certa, pois o amanhã não faria sentido algum se tudo o conduzia somente as lembranças, ia sim viver profundamente a esperá-las, depois disso não se sabia o que viria... ou o que foi.
ele vivia ao contrário.
não sabia se o futuro, ou aquilo que chamava urgentemente de passado, traria alegrias semelhantes, só sábia que certa vez no passado, ou aquilo que chamava tão esperançoso de futuro, tinha sido assim. sabia sim, ou sabia vagamente, ou só suspeitava.. ter um dia que admitir não ter acontecido era o que mais temia. era por isso que achava o tempo tão injusto e seco, tão precipitado e cruel, pois ele só precisava passar pra poder mascarar tudo. só o momento exato sabe o gosto que tem, depois você só acha sabores parecidos e pensa que é igual.
foi por isso que vendeu todos os relógios da casa num brechó e pensou um dia encontrá-los sem nunca ter sido usados numa loja de luxo. agora tinha o tempo em suas mãos.