com o tempo eu resolvi crescer, meio que obrigada no princípio, mas depois foi realmente preciso, por motivos e coisas que não conferem nessa história. quem sabe outra hora eu te conte, pois hoje você precisa dormir cedo.
num tempo que me durou apenas alguns centímetros a mais, nela este mesmo tempo foi ainda mais cruel. para ela lhe durou uma roupa mais bufenta e amarrotada, um olho a menos, alguns remendos nas suas costas ao tecido que sedia aos dias, deixando-a aparentemente cada vez mais frágil. nessas costuras nunca vi um só pingo de sangue escorrer, juro. ela era na verdade sempre tão forte. e os seus cabelos ganhavam espaço no ar, agora tão cheios, nem eram mais lisos e pareciam ter encolhido. não eram mais como antes. achei justo, pois nem eu mais o era.
mas em mim, te digo, permaneceu sempre tão linda. não pela sua primeira imagem que era ainda tão viva na lembrança, mas pelo que ela significava pra mim todo dia, há muito tempo. eu nunca forcei achar-lhe tão bela, nunca, eu simplesmente achava, mesmo com o tempo e as coisas que o tempo lhe rendeu. eu a interpretava assim.
linda. como a gente vê alguém e acha. é a nossa forma de interpretá-la também. todo mundo costuma interpretar as pessoas ao seu jeito. às vezes até a gente sabe que aquela pessoa não é e que a maioria não arriscaria tal adjetivo, mas a gente acha simplesmente. tem gente que nós nem achamos, mas que coisas simples nos remetem a novas interpretações. é preciso estar aberto pra isso também.
de tudo o que ela me trouxe, o que guardo ainda mais forte nas minhas recordações é isso: saber interpretar as coisas, os textos, as pessoas e principalmente as bonecas. não importa o que a fila inteira ache, se o meu olhar aponta novas cores. só a gente sabe o efeito que causa na gente o que a vista aponta. quem mais verá com os olhos que vi? como não sei, continuo a descrever como ela era. pra que se deixem ver com os mesmo olhos que vi e saibam interpretar mais bonito.
só sabe mesmo quem vê. quem quer vê.