18 janeiro, 2009

o grande preço




nada até hoje fez apagar a imagem da ultima partida, do trem que diminuía aos poucos na vista que jamais alcançaria. certamente saudade não sentiria de quem levou consigo o que você não mais queria e só deixou a esperança de um dia novo.

ainda não ousaria dizer que apesar disso não foi uma partida doida e que por alguns minutos pensou se assim mesmo deveria ser. não olhou nos olhos e em momento algum pediu que ficasse e até desejou que jamais se encontrassem outra vez. foi assim que naquela manhã cinzenta de algum mês nunca esquecido, que em uma estação qualquer viu partir a sombra envelhecida e cansada de sua ultima vontade.

nunca mais voltaria aquela estação, não porque a partida bateria outra vez na memória, mas porque nunca mais precisaria.


decidiu isso pra sempre.



[é preciso que nos despojemos do nosso velho 'eu' por completo. que permitamos que ele se vá de vez e se distancie cada dia mais de onde estamos hoje, sem apegos ao que era, sem vontades e sonhos envelhecidos e cansados, mas olhando para o que pode ser depois de nos achegarmos ao altar, a nossa maravilhosa 'estação' de entrega, de despedida do velho.
o único lugar que o antigo 'eu' se distância é do centro da vontade de Deus.]




‘..esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim’ – Fp 3:13

07 janeiro, 2009

dádiva.

foi hoje que finalmente consegui tirar aquela antiga caixa de cima do guarda-roupa. por vezes olhei tão apressadamente, mas a tempo suficiente de despertar um velho tipo de deserto que sempre existiu ali, dentro de mim, cada vez que adiava aquele momento. me ocupei demasiadamente em não precisar dela e em inventar todas as desculpas que a vida me permitiu improvisar, para não ter que tirá-la de seu lugar, mesmo sabendo que nunca fui convincente o bastante. e nunca de fato seria. nem com os outros, nem comigo mesmo. tratei de deixar num lugar que eu acreditasse não poder alcançar, escolhi o lugar mais alto como se já soubesse que sempre deveria estar lá – independente de onde colocasse em meu quarto. lembro que a re-decorei ao meu gosto, com todo cuidado que pudesse ter, a fim de não abri-la sem querer e de repente ver tudo se espalhar de vez pelo chão. e espero que compreenda meu zelo exacerbado, sem perceber que se passa apenas de mais uma das desculpas que levo no bolso, pra sempre ter motivos o bastante. com o tempo aprendi a me precaver, pois sempre me deparo com a necessidade de ter que abri-la, assim como muitos tem feito. tenho fugido arduamente de seu conteúdo, sempre buscando qualquer coisa semelhante que possa substituir o que por tempo tenho precisado e pelo mesmo tempo evitado.
nessa caixa se encontra a real condição de quem sou, quem devo ser, quem nunca fui. se encontra o que por anos evitei me tornar, pra não ter depois que ver os olhares alheios tortos em minha direção. poucos, poucos mesmo, sorriem a quem abre a caixa. esses mesmos ‘poucos’ também desviam suas vistas de suas caixas, colocando em algum lugar seco e empoeirado, indiferentes a sua existência. outros a tiram completamente de seus quartos ignorando o dia de terem que enfrentá-la.

hoje, por mais uma vez, a senti a me atrair, e de repente já não fez sentido porque tantas vezes tropecei na simplicidade de seu convite. foi assim que me aproximei do guarda-roupa, dessa vez por motivos bem diferentes de outrora.
olhei pro alto e levantei a mão.

abri o presente e encontrei o presenteador.

‘Veio para o que era seu, e os seus não o receberam’.- João 1:11.