29 fevereiro, 2008

máscara



já que é assim, deixa então que eu mesma escolho a minha máscara. me parece tão cruel esse sistema, ninguém ser quem parece ser, mas faço diferente. já que não sou eu tão fútil assim, mesmo querendo não ser tão comum, mas sendo condicionada a esse jogo, farei jus a minha escolha. quero aquela máscara ali, aquela tão parecida comigo que até me confunde, eu arranjo a minha forma de fugir desse quadro taxado. pego e coloco e até dou uma olhadinha no espelho, pra confirmar meu potencial de escolha. mas ao observar melhor começo a ver que ela não se parece comigo e sim com quem, na verdade, eu gostaria de ser, é uma projeção das minhas buscas. e acho até que esse negócio de máscaras não é tão ruim é assim, vejo até que me cai tão bem. então arranco de vez... o rosto que se encontra em baixo dela, pra não parecer assim tão doble.




25 fevereiro, 2008

dia em cores e som



num dia qualquer poderia acontecer. num dia desses, quem sabe. numa esquina com muito verde e vermelho e poderia tocar um som bem limpo e fácil, sem letras audíveis, que acompanhassem o desenrolar da história. calmaria, magia, surpresa, emoção. sintonia de dias, sons, cores, coisas em movimentos e outras em repouso, dentro e fora, na ordem que cair melhor. poderia ser numa sexta-feira ou sábado talvez, pra assim apagar a falta de jeito que foi aquela semana, salvar o que os dias tinham sido até ali. mas sem pressa, sem esperar que fosse o dia e lugar, pra que as expectativas não estragassem, pra que o olhar soasse natural, sem ensaios, nem idealizações, como se fosse um momento comum e ao mesmo tempo não, como se realmente tivesse que acontecer, não importasse as esperas. o coração bateria no compasso daquela música, que ainda tocava e talvez até tivesse vontade de dançar e por pouco que fosse não resistiria. não se preocupar de repente em dar nome ou tamanho a nada, medir, calcular, não se importar com o contraste das cores, nem com formas, olhares, nada além de um metro de si mesmo pra todos os lados. e dentro viver cada segundo sem se dar conta da falta de espaço, falta de tempo, falta de ar, que até suspeitou ser o problema. todos deveriam ter o dia do acontecer do sonho. sonho acontecer.

antes de sair de casa pensou muito que roupa vestiria (verde? vermelho?). se vestiu e saiu de casa achando aquele dia tão comum, pensou até se seria esse o dia. e saiu... assim de azul.




24 fevereiro, 2008

tempo..

que esse dia iria passar era certo, as horas já se mostravam em despedida, era o mínimo a esperar. e amanhã seria um dia tão anterior, tão ultrapassado e vencido, porque de certa forma a vida corria agora ao contrário, na direção errada ou talvez, por meu engano, fosse realmente essa a certa, pois o amanhã não faria sentido algum se tudo o conduzia somente as lembranças, ia sim viver profundamente a esperá-las, depois disso não se sabia o que viria... ou o que foi.

ele vivia ao contrário.

não sabia se o futuro, ou aquilo que chamava urgentemente de passado, traria alegrias semelhantes, só sábia que certa vez no passado, ou aquilo que chamava tão esperançoso de futuro, tinha sido assim. sabia sim, ou sabia vagamente, ou só suspeitava.. ter um dia que admitir não ter acontecido era o que mais temia. era por isso que achava o tempo tão injusto e seco, tão precipitado e cruel, pois ele só precisava passar pra poder mascarar tudo. só o momento exato sabe o gosto que tem, depois você só acha sabores parecidos e pensa que é igual.

foi por isso que vendeu todos os relógios da casa num brechó e pensou um dia encontrá-los sem nunca ter sido usados numa loja de luxo. agora tinha o tempo em suas mãos.



15 fevereiro, 2008

salada

a vida dá seus rumos. (você ainda espera aquele telefonema). o mundo dá seus giros. (da próxima vez quem sabe). os livros dão seus finais. (o projeto não saiu do papel). os tribunais dão seus veredictos. (a carta fica pra amanhã). os médicos dão seus diagnósticos. (segunda-feira você começa). as histórias dão seus vilões. (você fica horas na frente da TV). alguns dão seus jeitinhos. (você acordou ao meio dia). aquele seu amigo arrumou um emprego. (você nem sequer arrumou a cama). os passos dão suas seqüências. (você nem sabe que dia é hoje). as experiências dão suas respostas. (você quer ser um vegetal). a vida dá seus rumos. (a vida dá em você). o mundo virou uma horta.

[o pulso ainda pulsa?]

vai um energético aí?

13 fevereiro, 2008

era o seu gesto




não gritaria aos quatro ventos minhas mágoas. nem que fossem quinze, três e meio, sete ventos. nem que eu apenas suspirasse, ao invés de gritar. não esperaria que o vento se arrastasse levando minhas frustração na direção que eu penso justa. ele pode simplesmente não se dar por satisfeito e correr na direção contrária, trazendo tudo de volta. não adianta varrer pra de baixo do tapete.

você sabe o momento que custou, que se deu demais, esperou, perdeu o ar, o chão, a fala, a hora. lembra que se encostou num canto qualquer se apoiou em qualquer coisa, se condicionou a outras, esperou respostas..

[...]

a criança já andava. começou com alguns arrastados que de leve pareciam meio toscos, era sua forma de improvisar, soava bem a uma grande tentativa. logo começou a engatinhar, mesmo que carregasse em seu coração [tão inexperiente] a vontade de correr, pular, desfilar, mas teria muito que aprender e ousar. mas mesmo a uns bons tombos conseguiu, mesmo que insegura, dar seus primeiros passos. já tinha experimentado tudo isso.. superado isso tudo. o importante é que agora ela andava. e a criança tinha aprendido, mas talvez porque era realmente necessário, outro motivo ao certo não se sabe.

vou te dizer. era imprescindível mesmo. mas ela não iria faze-lo só. ela tinha um pai. ele tinha uma filha. e era mais que isso que os uniam. existiam um amor que olhos não entendiam.


sabe, a criança, como qualquer outra, tinha em seu pai aquele algo superior. e ele realmente o era. ela andava... com ele ao seu lado e andava.. pegava no cós de sua calça e andava. esse simples gesto fazia a sua diferença, pois quando segurava em seu cós podia ver o que se passava ao seu redor tranquila, pois sabia que ele estava ali. eram muitas as coisas que se passavam, eram várias as cores e tão atrativas, era tanta beleza externa, tantas coisas que se atreviam em seus olhos. mas seria arriscado demais trocar a segurança do cós pra poder tocá-las, experimentá-las, ver o que por dentro era. que gosto teriam? mas ela deveria ficar ali. não correr o risco de perdê-lo de vista. poderia não saber mais como voltar. ela tocaria somente no que seu pai lhe desse. e você talvez não saiba, mas eram nessas coisas que se encontravam a verdadeira beleza. era ali que existia. secretamente.


[quando eu me sinto insegura é porque soltei o cós]

Ah! há muitos que vocês precisam saber





vai um amor novinho aí? em grandes porções..




11 fevereiro, 2008

gavetas e lixeiras



guardar os dias em gavetas pra mantê-los semi-novos. e em cada oportunidade fica o medo a roubar-lhe a cena. sentado enquanto passa um filme a sua frente. e vai se perdendo em larga escala todo o rascunho dos livros que seriam colecionados. em cada lembrança ainda fica a sombra do que poderia, enfim, ser a história. e ela seria contada e repetida e lembrada e relembrada... até sobrar a verdade de saber-lhe cumprida. e tempos passariam... e talvez se esqueceria... ou então se saberia de ter sido mais que o sonho de alguém.



[não se acomode demais nas poltrona!]

06 fevereiro, 2008

aiai

de nada me serve o em vão
pois tudo que passa fica também aqui
eu colho e trago e levo
admiro, distraída como de praxe
e me escapam nesses meus sorrisos fáceis
aiai



[uns chamariam isso de fuga. eu chamo de conforto]


.



mais uma almofada?

01 fevereiro, 2008

uma história comum, naturalmente


a vida que sonhou não é a que teve. na que teve nunca ousou. nos seus sonhos, porém, era tudo muito diferente, era sobretudo o que mais queria. seus medos e remorsos, as palavras ensaiadas antes de dormir, nunca saíram de lá. o travesseiro sabia os sorrisos que deixava escapar. ah se acontecesse! acordar era o que mais temia. talvez um dia chuvoso lá fora. talvez ninguém ligasse. talvez a sala vazia. talvez ninguém entendesse de novo.. ou pior: ignora-se [ninguém nunca liga pra isso menina]. mas com o tempo aprendeu onde se refugiar. aprendeu onde ela conseguiria ser quem sempre quis, aprendeu onde encontraria quem desejasse a hora que fosse, que poderia ter a estação que quisesse [ser a estação que quisesse] e ter o fim que lhe cabe. e por que não fazer disso seu abrigo permanente? então soube formular seu mundo tão rápido em sua mente, de uma forma que jamais se achegaria a alguém com tal agilidade, precisava preparar bem o lugar. e foi assim que começou a arrumar a mala, e colocou tudo o que tinha, viajaria pra bem longe: pros seus sonhos. iria substituir as pessoas, criar seus próprios diálogos, fazer dos pequenos os grandes detalhes. e foi a atitude mais radical que conseguiu alcançar em toda sua vida. e era feliz assim. embora ninguém soubesse..



[seria essa a mesma menina dos pontos?]


os sonhos não fazem as flores crescerem..
mas faz a gente crescer... ou estancar, isso dependendo da distância que seus pés estão do chão. cada um conhece seu próprio limite. o tempo de pouso e de levantar vôo.. mas querer é mais quinhentos.
se não se sabe que sonhar é também uma sala de espera, não um esconderijo. é preciso saber voar.



vai uns biscoitinhos aí?