07 agosto, 2008

sinais




gota a gota. eu sinto pingar dentro de mim no mesmo compasso. cada uma delas parece anunciar uma mensagem secreta, mesmo que num tom baixo, uma a uma. é preciso parar tudo pra ouvir. é assim que começa.

de repente, não muito mais que isso, outras aparecem pra confirmar o que a primeira tentava explicar. começa um novo ritmo e a mensagem ousa mais à nossa frente. e o volume aumenta quando você se concentra e esquece os outros sons. e você parece finalmente entender que aquela seqüência de tons no telhado te ordena.

abra o guarda-chuva... pegue o cobertor... tire as roupas do varal...

a chuva logo vem.


a ordem é se preparar.


[e eu já sinto o friozinho na barriga]



"bem-aventurados aqueles servos,
os quais, quando o Senhor vier, achar
vigiando! em verdade vos digo que se cingirá,
e os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá." [lc 12:37]

02 agosto, 2008

o senhor dos sapatos

a cada passo eu tento prever o seguinte, como se a estrada fosse sempre tão plana e homogênea, só porque fui eu quem escolheu e comprou esses sapatos. como se coordenar o movimento dos meus pés fosse suficiente para impedir o perigo logo a esquina. mas ao dobrar outro mundo.
e assim mesmo sempre impelida a ir com cautela e olhar sempre os dois lados antes de atravessar, como se apenas isso bastasse.
os machucados que carrego a cada passo superado e pegada deixada por misericórdia aos segundos passados, não me trazem aos ouvidos o aviso que impede o tropeço, a queda. mesmo que seja apenas mais um de tantos que houveram. mesmo que seja só mais no mesmo lugar.
tantos sinais ao redor que nada me comovem. eu movo meus pés com destreza e harmonia que copiei de alguém. seguindo como quem sabe aonde vai, mas ninguém sabe que sigo os caminhos que se atreveram a minha frente, na fuga de não me manter parada e no risco de não ir a lugar nenhum. quero apenas que me vejam passando.
e dentro de mim eu sinto o quanto custam meus calos, na tentativa de dançar, de saltar, de correr. mas não saio dos mesmos passos errados e pesados. errados, pesados e doloridos, que em mim eu acredito que não há caminho que me compense uns sapatos confortáveis. mas eu não paro de dançar. que me vejam passar. que me vejam.
parece que embora ande nunca saio do mesmo lugar.

eu ouço rumores de alguém que decora meus movimentos e que quer me trazer uns sapatos bonitos e leves para que eu não pare. mas dizem também que há um caminho [o caminho] a ser percorrido até lá, mas que há um acompanhante oferecido gratuitamente pra quem decide ir encontra-lo. imagine só... gratuitamente. e ele te leva nos braços.

“ a estrada do justo é como a luz da aurora,
que brilha cada vez mais até ser dia perfeito” [pv 4:18]