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A graça é tão difícil de definir quanto difícil de acreditar. É por certo um monstruoso escândalo à religião e à moral, porque sustenta, basicamente, que Deus não acolhe as pessoas pela consistência do seu desempenho religioso, ético, social ou profissional, mas unicamente pela sua graça – seu próprio cavalheirismo, graciosidade e inclinação em perdoar. Segundo a visão de mundo do Novo Testamento, é apenas devido a essa postura graciosa de Deus que gente sem qualquer mérito como nós mesmos e o vil ladrão crucificado ao lado de Jesus pode ser acolhida no Reino sem nenhum trâmite adicional.
A boa nova da graça explica que Deus não escolhe escolher pessoas pelo seu desempenho admirável, porque do contrário não teria ninguém para escolher. Admirável é Deus, que ao contrário de nós acolhe e aceita as pessoas sem critério algum. Para o indivíduo a graça é liberadora porque liberta da escravidão do desempenho; ela esclarece que vale tanto controlar o tráfego aéreo de uma grande cidade quanto passar a tarde aquecendo um gatinho entre as mãos.
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A graça é apavorantemente inclusiva e deve ser manipulada com horror porque anula o mérito de todo sistema religioso; a graça torna inteiramente contraproducente, insensata e obsoleta a noção de religião como esforço ritual de religar o homem a Deus.
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Notáveis, para Jesus, são os que não estão nem aí para o culto da performance; que vivem deliberadamente à margem dos valores do mundo e não servem às riquezas porque querem servir a Deus; que não andam ansiosos com o dia de amanhã porque crêem surpreendentemente que a vida é mais do que o alimento, o corpo mais do que as vestes e a casa mais do que o Sound System: os tolos, os imprudentes, os despreparados, os marginais, os insensatos, os pacificadores, os que não se destacam em nada, os confusos, os destrambelhados, os altruístas, os medíocres, os fracos.
Todos, talvez. Você, certamente. Eu, em particular.
bom seria que o segundo que dividem dois anos, anunciassem também um tempo completamente novo, totalmente desconhecido, que nada se repetisse. incrível que por mais sinceros que tentamos ser com nós mesmo, dificilmente conseguimos fugir da idéia que agora sim tudo vai ser diferente. mas, desculpa, não, não vai.
você pode até tentar jogar a poeira pra debaixo do tapete, rasgar as velhas cartas, cortar os laços, deletar aqueles e-mails intrigantes, as fotos que hoje até te envergonham.. você pode tentar apagar todos os resquícios de alguém, sumir com todas as pistas, jogar fora todos os objetos que ainda provocam lembranças, mas isso não funciona por muito tempo.
se existe algo que eu desejo pra esse ano, esse algo é a capacidade de relevar.. e isso tem muito mais a ver com saber continuar apesar de tudo, do que esquecer tudo o que passou. quero poder lembrar de tudo, não pretendendo deixar passar nenhum detalhe que seja do que passou. mas quero sobretudo aprender a seguir sem doer.
e depois saber que estou aqui hoje bem mais forte e poder lembrar que sobrevivi apesar de tudo.
um ano muito melhor pra todos nós. o melhor de Deus.