07 janeiro, 2009

dádiva.

foi hoje que finalmente consegui tirar aquela antiga caixa de cima do guarda-roupa. por vezes olhei tão apressadamente, mas a tempo suficiente de despertar um velho tipo de deserto que sempre existiu ali, dentro de mim, cada vez que adiava aquele momento. me ocupei demasiadamente em não precisar dela e em inventar todas as desculpas que a vida me permitiu improvisar, para não ter que tirá-la de seu lugar, mesmo sabendo que nunca fui convincente o bastante. e nunca de fato seria. nem com os outros, nem comigo mesmo. tratei de deixar num lugar que eu acreditasse não poder alcançar, escolhi o lugar mais alto como se já soubesse que sempre deveria estar lá – independente de onde colocasse em meu quarto. lembro que a re-decorei ao meu gosto, com todo cuidado que pudesse ter, a fim de não abri-la sem querer e de repente ver tudo se espalhar de vez pelo chão. e espero que compreenda meu zelo exacerbado, sem perceber que se passa apenas de mais uma das desculpas que levo no bolso, pra sempre ter motivos o bastante. com o tempo aprendi a me precaver, pois sempre me deparo com a necessidade de ter que abri-la, assim como muitos tem feito. tenho fugido arduamente de seu conteúdo, sempre buscando qualquer coisa semelhante que possa substituir o que por tempo tenho precisado e pelo mesmo tempo evitado.
nessa caixa se encontra a real condição de quem sou, quem devo ser, quem nunca fui. se encontra o que por anos evitei me tornar, pra não ter depois que ver os olhares alheios tortos em minha direção. poucos, poucos mesmo, sorriem a quem abre a caixa. esses mesmos ‘poucos’ também desviam suas vistas de suas caixas, colocando em algum lugar seco e empoeirado, indiferentes a sua existência. outros a tiram completamente de seus quartos ignorando o dia de terem que enfrentá-la.

hoje, por mais uma vez, a senti a me atrair, e de repente já não fez sentido porque tantas vezes tropecei na simplicidade de seu convite. foi assim que me aproximei do guarda-roupa, dessa vez por motivos bem diferentes de outrora.
olhei pro alto e levantei a mão.

abri o presente e encontrei o presenteador.

‘Veio para o que era seu, e os seus não o receberam’.- João 1:11.

3 comentários:

Anônimo disse...

voce escreve muiiiito bem..belo textO..minha caixa se encontra as vzs fechada.. esconcida e outras tão aberta e tao vistosa hehehe..

parabens de verdade e naao soomee hahahah!!
=*

Srta. Pinheiro disse...

"olhei para o alto e levantei a mão."

Amém!

Que todas as verdades sobre nós que são conhecidas diante dos olhos Dele, se façam conhecidas para nós também.


Obrigada. ;)

Belle disse...

adorei o: Olhei pro alto e levantei a mão.

se todos pelo menos soubessem que essa caixa existe para cada um...